O Livro:
O evangelho maltrapilho, de Brennan Manning, foi escrito para pessoas aniquiladas, derrotadas e exauridas. Pessoas que se acham indignas de receber o amor de Deus. Quem sabe, ignoradas pela comunidade de cristãos por não se encaixarem no perfil de super-homem ou de supermulher que lhes é constantemente exigido. Pessoas cansadas da espiritualidade superficial e consumista. Pessoas que travam inúmeras batalhas interiores por não se sentirem parte de uma comunidade afetiva e acolhedora.
Leiam esse trecho do livro e vejam porque recomendo essa leitura.....
"Em algum ponto da nossa vida, fomos fundamentalmente tocados por um encontro com Jesus Cristo. Foi uma experiência de apogeu, um momento de imensa consolação. Fomos tomados de paz, alegria, confiança, amor. Dito simplesmente, fomos arrebatados. Nossa mente e coração ressoavam com maravilhas e assombro. Ficamos profundamente comovidos por algumas horas, dias ou semanas, e eventualmente retornamos às ocupações rotineiras da existência diária. Não permanecemos resolvidos.
Devagar ficamos emaranhados nas exigências do ministério ou da carreira e nas distrações que nosso agitado mundo oferece. Começamos a tratar Jesus como um velho amigo do Brooklyn que amamos intensamente em anos passados mas com o qual gradualmente perdemos contato. Isso, é claro, não foi intencional. Simplesmente permitimos que as circunstâncias nos separassem. Numa recente visita àquela cidade nunca passou pela nossa cabeça contatá-lo. Ficamos ocupados com alguma outra coisa, mesmo que tenha se mostrando muito menos estimulante e cativante. È possível que nunca tenhamos amado tanto outra pessoa quanto amamos esse amigo, mas até mesmo a lembrança tornou-se indistinta.
Acentuado pelo agnosticismo da negligência – a falta de disciplina pessoal com relação ao bombardeio da mídia, o controle da mente, as conversas estéreis, a oração pessoal e a sujeição dos sentidos -, a presença de Jesus torna-se cada vez mais remota. Da mesma forma que a falta de dedicação e atenção dissolve a confiança e a comunhão nos relacionamentos humanos, a negligência do Espírito desfaz o tecido do relacionamento divino. À medida que, olhando para o outro lado, fechamos Deus para a nossa consciência, nosso coração se esfria. Os cristãos agnósticos não negam um Deus pessoal; eles demonstram a sua descrença quando ignoram o sagrado. A trivialidade da nossa vida é muito testemunho da surrada mobília de nossa alma.
Nossos dias vão assim se tornando cada vez mais triviais. “Ficamos presos num labirinto frenético. Levantando quando o relógio determina. Bombardeados por manchetes de jornal que parecem remota e além do alcance. Extenuados por todas as operações mecânicas que nos lançam à atividades e à produtividade. Testados pelo tráfego, forçados a calcular tempo e distância a nível de segundo. Elevadores, telefones e engenhocas guiam-nos pelas interações necessárias e mantêm as interações humanas superficiais e num nível mínimo. Nossa concentração é interrompida por reuniões e pequenas crises. No fim do dia, rebobinamos a nós mesmos: tráfego, automação, manchetes, até que o alarme do relógio imponha a acordar de amanhã. Rotinas de procedimentos e de Timing. Pouco espaço para responder humanamente e com humanidade aos eventos diários; pouco tempo para adentrar a sabedoria e o vigor e a promessa de suas oportunidades. Sentimos nossa vida sufocando-nos, confinando-nos e moldando-nos.
Estabelecemos e nos conformamos a vida de piedade confortável e de virtude bem-alimentada. Tornamo-nos complacentes e vivemos vidas práticas. Nossas débeis tentativas de orar são repletas de frases pomposas direcionadas a uma divindade impassível. Até mesmo ocasiões de adoração tornam-se triviais.
É este o manquejar vitorioso frequentemente vivido por este escritor. Em momentos diferentes da jornada tentei encher o vazio que acompanha muitas vezes a presença de Deus através de uma variedade de substitutos: escrever, pregar, viajar, televisão, cinema, sorvete, relacionamentos superficiais, esportes, música, devaneio, álcool, etc. Como diz Annie Dillard: “Há sempre uma enorme tentação de se embromar fazendo amigos efêmeros sem fim”. Ao longo do caminho optei pela escravidão e perdi todo o desejo de liberdade. Amei meu cativeiro e aprisionei a mim mesmo no desejo por coisas que eu odiava. Endureci meu amor contra o amor verdadeiro. Abandonei a oração e fugi da simples santidade da minha vida. Num determinado dia, quando a graça me arrebatou e voltei à oração, meio que esperei que Jesus replicasse: “Brennan quem?”
Nenhum dos meus fracassos na fidelidade mostrou-se terminal. Vez após outra uma graça radical agarrou-me nas profundezas do meu ser, levou-me a aceitar a posse das minhas infidelidades e conduziu-me de volta ao quinto passo do programa dos AA: “Reconhecer diante de Deus, de outro ser humano e de mim mesmo a exata natureza de minha transgressão”.
O perdão de Deus é uma libertação gratuita da culpa. Paradoxalmente, a convecção da pecaminosidade pessoal torna-se ocasião para um encontro com o amor misericordioso do Deus redentor. “Haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende...” (Lc 15:7). Em sua devastação, o pródigo arrependido experimenta uma intimidade com o pai que seu irmão sem pecado e o cheio de justiça própria nunca chegaria a conhecer.
Quando Jesus perdoou os pecados do paralítico, alguns escribas pensaram consigo mesmos: “Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” (Mc 2:7, ARC). Quão iluminados foram eles em sua cegueira! Apenas Deus sabe como perdoar. Nossas desajeitadas tentativas humanas de perdoar criam muitas vezes mais problemas do que resolvem. Cheios de condescendência, nós esmagamos e humilhamos o pecador com nossa insuportável magnanimidade. Ele pode sentir-se perdoado mas completamente destituído de segurança, consolação e encorajamento. Apenas Deus sabe como perdoar e colocar todos os quatro juntos. O pai do pródigo verdadeiramente disse: “Sim, menino. Não preciso saber onde você esteve ou o que tem aprontado”.
O evangelho da graça anuncia: o perdão precede o arrependimento. O pecador é aceito antes de implorar por misericórdia. Ela já é assegurada. Ele precisa apenas aceitá-la. Anistia total. Perdão gracioso. “Só Deus é capaz de tornar o perdão algo glorioso de se lembrar. Ele tem tanto prazer em nos perdoar que aqueles que lhe proporcionaram essa alegria não se sentem como pestinhas repulsivos e importunos, mas como crianças mimadas, compreendidas e encorajadas, agradáveis e úteis para ele, infinitamente melhores do que se consideravam. “Que erro feliz!, eles poderiam gritar: Se não fôssemos pecadores e não precisássemos do perdão mais do que de pão, não teríamos como saber quão profundo é o amor de Deus”.
Quando o filho pródigo coxeou até sua casa depois de sua prolongada farra de devassidão e vadiagem, bebedeira e promiscuidade, suas motivações eram, na melhor das hipóteses, incertas. Ele disse a si mesmo: “Quantos trabalhadores de meu pai têm abundâncias de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai” (Lc 15:17, 18: ARC). O estômago do maltrapilho não estava doendo de remorso porque ele havia partido o coração do pai. Ele cambaleou para casa simplesmente para sobreviver. Sua permanência numa terra distante o havia deixado falido. Os dias de vinho e rosas o haviam deixado atordoado e desiludido. O vinho azedou e as rosas murcharam. Sua declaração de independência havia ceifado uma colheita inesperada: não liberdade, alegria e uma vida nova, mas cativeiro, tristeza e um embate com a morte. Os amigos-da-onça haviam transferido suas lealdades quando o seu cofrinho se esvaziou. Desencantado com a vida, o gastador traçou o caminho de volta para casa, não ardendo de desejo de ver seu pai, mas de apenas permanecer vivo.
Para mim, o versículo mais tocante da Bíblia inteira é a reação do pai: “E, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço, e o beijou” (Lc 15:20;ARC). Emociona-me que o pai não tenha submetido o rapaz a interrogatório cruzado, que não o tenha intimidado, que não tenha dado um sermão sobre ingratidão, que não tenha insistido em qualquer motivação superior. Ele ficou tão alegre ao ver o filho que ignorou todos os cânones da prudência e da austeridade parental e simplesmente acolheu-o em casa. O pai tomou-o de volta como ele estava.
Que palavra de encorajamento, consolo e conforto! Não sondamos nosso coração e analisamos nossas intenções antes de voltar para casa. Abba quer apenas que apareçamos. Não temos de fazer hora na taberna até que surja a pureza de coração. Não temos de ser retalhados pelo pesar ou esmagados pela contrição. Não temos de ser perfeitos, ou mesmo muito bons antes que Deus nos aceite. Não temos de chafurdar na culpa, na vergonha, no remorso e na autocondenação. Mesmo se alimentamos uma nostalgia secreta pela terra distante, Abba desmoronou em nosso pescoço e nos beija.
Mesmo se voltarmos porque não conseguimos nos sustentar por nós mesmos. Deus nos acolhe. Ele não busca explicações para nossa repentina aparição. Ele está contente que estejamos lá e quer dar-nos tudo que desejamos....."
Devagar ficamos emaranhados nas exigências do ministério ou da carreira e nas distrações que nosso agitado mundo oferece. Começamos a tratar Jesus como um velho amigo do Brooklyn que amamos intensamente em anos passados mas com o qual gradualmente perdemos contato. Isso, é claro, não foi intencional. Simplesmente permitimos que as circunstâncias nos separassem. Numa recente visita àquela cidade nunca passou pela nossa cabeça contatá-lo. Ficamos ocupados com alguma outra coisa, mesmo que tenha se mostrando muito menos estimulante e cativante. È possível que nunca tenhamos amado tanto outra pessoa quanto amamos esse amigo, mas até mesmo a lembrança tornou-se indistinta.
Acentuado pelo agnosticismo da negligência – a falta de disciplina pessoal com relação ao bombardeio da mídia, o controle da mente, as conversas estéreis, a oração pessoal e a sujeição dos sentidos -, a presença de Jesus torna-se cada vez mais remota. Da mesma forma que a falta de dedicação e atenção dissolve a confiança e a comunhão nos relacionamentos humanos, a negligência do Espírito desfaz o tecido do relacionamento divino. À medida que, olhando para o outro lado, fechamos Deus para a nossa consciência, nosso coração se esfria. Os cristãos agnósticos não negam um Deus pessoal; eles demonstram a sua descrença quando ignoram o sagrado. A trivialidade da nossa vida é muito testemunho da surrada mobília de nossa alma.
Nossos dias vão assim se tornando cada vez mais triviais. “Ficamos presos num labirinto frenético. Levantando quando o relógio determina. Bombardeados por manchetes de jornal que parecem remota e além do alcance. Extenuados por todas as operações mecânicas que nos lançam à atividades e à produtividade. Testados pelo tráfego, forçados a calcular tempo e distância a nível de segundo. Elevadores, telefones e engenhocas guiam-nos pelas interações necessárias e mantêm as interações humanas superficiais e num nível mínimo. Nossa concentração é interrompida por reuniões e pequenas crises. No fim do dia, rebobinamos a nós mesmos: tráfego, automação, manchetes, até que o alarme do relógio imponha a acordar de amanhã. Rotinas de procedimentos e de Timing. Pouco espaço para responder humanamente e com humanidade aos eventos diários; pouco tempo para adentrar a sabedoria e o vigor e a promessa de suas oportunidades. Sentimos nossa vida sufocando-nos, confinando-nos e moldando-nos.
Estabelecemos e nos conformamos a vida de piedade confortável e de virtude bem-alimentada. Tornamo-nos complacentes e vivemos vidas práticas. Nossas débeis tentativas de orar são repletas de frases pomposas direcionadas a uma divindade impassível. Até mesmo ocasiões de adoração tornam-se triviais.
É este o manquejar vitorioso frequentemente vivido por este escritor. Em momentos diferentes da jornada tentei encher o vazio que acompanha muitas vezes a presença de Deus através de uma variedade de substitutos: escrever, pregar, viajar, televisão, cinema, sorvete, relacionamentos superficiais, esportes, música, devaneio, álcool, etc. Como diz Annie Dillard: “Há sempre uma enorme tentação de se embromar fazendo amigos efêmeros sem fim”. Ao longo do caminho optei pela escravidão e perdi todo o desejo de liberdade. Amei meu cativeiro e aprisionei a mim mesmo no desejo por coisas que eu odiava. Endureci meu amor contra o amor verdadeiro. Abandonei a oração e fugi da simples santidade da minha vida. Num determinado dia, quando a graça me arrebatou e voltei à oração, meio que esperei que Jesus replicasse: “Brennan quem?”
Nenhum dos meus fracassos na fidelidade mostrou-se terminal. Vez após outra uma graça radical agarrou-me nas profundezas do meu ser, levou-me a aceitar a posse das minhas infidelidades e conduziu-me de volta ao quinto passo do programa dos AA: “Reconhecer diante de Deus, de outro ser humano e de mim mesmo a exata natureza de minha transgressão”.
O perdão de Deus é uma libertação gratuita da culpa. Paradoxalmente, a convecção da pecaminosidade pessoal torna-se ocasião para um encontro com o amor misericordioso do Deus redentor. “Haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende...” (Lc 15:7). Em sua devastação, o pródigo arrependido experimenta uma intimidade com o pai que seu irmão sem pecado e o cheio de justiça própria nunca chegaria a conhecer.
Quando Jesus perdoou os pecados do paralítico, alguns escribas pensaram consigo mesmos: “Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” (Mc 2:7, ARC). Quão iluminados foram eles em sua cegueira! Apenas Deus sabe como perdoar. Nossas desajeitadas tentativas humanas de perdoar criam muitas vezes mais problemas do que resolvem. Cheios de condescendência, nós esmagamos e humilhamos o pecador com nossa insuportável magnanimidade. Ele pode sentir-se perdoado mas completamente destituído de segurança, consolação e encorajamento. Apenas Deus sabe como perdoar e colocar todos os quatro juntos. O pai do pródigo verdadeiramente disse: “Sim, menino. Não preciso saber onde você esteve ou o que tem aprontado”.
O evangelho da graça anuncia: o perdão precede o arrependimento. O pecador é aceito antes de implorar por misericórdia. Ela já é assegurada. Ele precisa apenas aceitá-la. Anistia total. Perdão gracioso. “Só Deus é capaz de tornar o perdão algo glorioso de se lembrar. Ele tem tanto prazer em nos perdoar que aqueles que lhe proporcionaram essa alegria não se sentem como pestinhas repulsivos e importunos, mas como crianças mimadas, compreendidas e encorajadas, agradáveis e úteis para ele, infinitamente melhores do que se consideravam. “Que erro feliz!, eles poderiam gritar: Se não fôssemos pecadores e não precisássemos do perdão mais do que de pão, não teríamos como saber quão profundo é o amor de Deus”.
Quando o filho pródigo coxeou até sua casa depois de sua prolongada farra de devassidão e vadiagem, bebedeira e promiscuidade, suas motivações eram, na melhor das hipóteses, incertas. Ele disse a si mesmo: “Quantos trabalhadores de meu pai têm abundâncias de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai” (Lc 15:17, 18: ARC). O estômago do maltrapilho não estava doendo de remorso porque ele havia partido o coração do pai. Ele cambaleou para casa simplesmente para sobreviver. Sua permanência numa terra distante o havia deixado falido. Os dias de vinho e rosas o haviam deixado atordoado e desiludido. O vinho azedou e as rosas murcharam. Sua declaração de independência havia ceifado uma colheita inesperada: não liberdade, alegria e uma vida nova, mas cativeiro, tristeza e um embate com a morte. Os amigos-da-onça haviam transferido suas lealdades quando o seu cofrinho se esvaziou. Desencantado com a vida, o gastador traçou o caminho de volta para casa, não ardendo de desejo de ver seu pai, mas de apenas permanecer vivo.
Para mim, o versículo mais tocante da Bíblia inteira é a reação do pai: “E, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço, e o beijou” (Lc 15:20;ARC). Emociona-me que o pai não tenha submetido o rapaz a interrogatório cruzado, que não o tenha intimidado, que não tenha dado um sermão sobre ingratidão, que não tenha insistido em qualquer motivação superior. Ele ficou tão alegre ao ver o filho que ignorou todos os cânones da prudência e da austeridade parental e simplesmente acolheu-o em casa. O pai tomou-o de volta como ele estava.
Que palavra de encorajamento, consolo e conforto! Não sondamos nosso coração e analisamos nossas intenções antes de voltar para casa. Abba quer apenas que apareçamos. Não temos de fazer hora na taberna até que surja a pureza de coração. Não temos de ser retalhados pelo pesar ou esmagados pela contrição. Não temos de ser perfeitos, ou mesmo muito bons antes que Deus nos aceite. Não temos de chafurdar na culpa, na vergonha, no remorso e na autocondenação. Mesmo se alimentamos uma nostalgia secreta pela terra distante, Abba desmoronou em nosso pescoço e nos beija.
Mesmo se voltarmos porque não conseguimos nos sustentar por nós mesmos. Deus nos acolhe. Ele não busca explicações para nossa repentina aparição. Ele está contente que estejamos lá e quer dar-nos tudo que desejamos....."
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Texto: trechos do capítulo dez "O Marquejar Vitorioso", do livro O Evangelho Maltrapilho, de Brennan Manning
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