quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Tudo o que eu sei de Deus.

por: Ana Maria Ribas
publicado no site:www.anamariaribas.com.br


Tudo o que sei de Deus aprendi sofrendo. Tudo o que sei de Deus passou pelo teste da cruz. Eu sei que existem pessoas que sabem de Deus olhando para o céu, para a natureza, para os pardais, para os lírios dos campos. Eu sei que existem pessoas que sabem de Deus poetizando, salmodiando, e cantando os melhores momentos da vitória de Israel sobre os filisteus. É um jeito de saber de Deus. É melhor do que nada saber. Mas não é o melhor jeito de conhecer a Deus.

Tudo o que sei de Deus aprendi sofrendo, e sofrendo, o conheci um pouco melhor. Mas, confesso a vocês que fico perplexa com tal fato: Que maravilha que alguns possam saber de Deus sem experimentar o sofrimento! Que maravilha saber de Deus indo aos cultos dominicais, decorando o catecismo, atendendo aos irmãos na porta da igreja, recebendo honras, galgando os degraus da hierarquia eclesiástica, aceitando títulos, e usufruindo do cristianismo com a ênfase de quem só provou o lado doce da vida cristã.

Que maravilha saber de Deus pelos ciclos evolutivos da natureza e pela contemplação das estrelas. Pelas histórias bíblicas que relatam o martírio dos cristãos. Pelas histórias contemporâneas que divulgam o sofrimento dos outros. Que maravilha pegar carona na galeria dos heróis da fé, e fazer disso um meio de vida, sem provar o cálice da amargura. Sem vinagre e sem fel. Só com vinho. De preferência bem doce.
Alguns cristãos são assim: nascem, crescem, vivem e morrem, deitados eternamente em berços esplêndidos. Esses nunca passaram pelo duro leito da manjedoura. Esses podem dizer: “Graças a Deus, nunca experimentei a cruz de Cristo! Deus me livrou disso e Deus me livrou daquilo, e o conhecimento da cruz, para mim, é meramente uma idéia abstrata.” Esses só conhecem o Deus dos livramentos.

Outros, porém, conhecem a cruz de perto, são cerceados por sua atuação, são limitados pelo que não convém aos interesses de Deus em detrimento dos seus próprios, e recebem no corpo as marcas de Cristo. Esses são os discípulos de Cristo.

Eu faço parte desses “outros, porém.” Eu faço parte do time sobre o qual Jesus profetizou: “ e eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo.” João 12:32. A poderosa atração da cruz exerce sobre as nossas vidas um magnetismo capaz de nos manter suspensos em relação às benesses do mundo. Lá de cima, da posição de crucificados com Cristo, assistimos à caravana dos cristãos sem cruz, desfilando a modernidade do seu evangelho de tele-cultos, exibindo a aura dos vencedores, nessa categoria especial de neo-cristãos que pregam um cristianismo sem participação nos sofrimentos.

Esses exibem um status especial que não consta da nossa Bíblia cristã. Esses discorrem com extrema gravidade sobre o Cristo e a natureza do seu ministério neo-testamentário, mas não foram atraídos para a cruz. Mas há um detalhe: Jesus disse que quando ele fosse levantado da terra, atrairia “todos” a ele mesmo. Todos os cristãos. Jesus não mencionou que haveria uma categoria de cristãos sem cruz. Isso é novo, isso é moderno, isso é revolucionário, e isso é totalmente anti-bíblico. Isso faz parte das idéias fantasiosas que se vendem acerca do Evangelho, segundo as quais todo aquele que crer e confessar a Jesus como Senhor, terá todos os problemas resolvidos. Haverá paz nos seus termos. Tudo lhe irá bem. Se a empresa está falida, irá prosperar. Se o carro está velho, Deus dará um carro novo. Ninguém fala que se a empresa estiver próspera poderá falir, e ainda assim a graça e a misericórdia de Deus não serão anuladas, porque elas transcendem o âmbito das coisas materiais. Ninguém diz que mesmo que Deus não lhe conceda dinheiro para comprar um carro novo, ainda assim, a sua fidelidade permanece segura e inabalável por toda a eternidade, por causa da obra redentora de Jesus, pela qual tudo o que ele conquistou é direito nosso. Ninguém conta que a paz prometida não é ausência de guerras, não é meramente um estado circunstancial, mas a confiança na pessoa do Senhor, pelo qual todas as bênçãos celestiais nos foram asseguradas.

Esse evangelho é um evangelho feito sob medida para o mundo. Não é a boa nova do céu, mas a loteria da terra. Que maravilha um evangelho que permite ao pastor usufruir de casa com heliporto em Campos do Jordão, de aviões particulares que o levam nas asas do vento, de casa de verão e casa de inverno, de apartamento em Nova York, de rendas vitalícias para o resto da vida, de anel eclesiástico no dedo, de lugar cativo na ponta de uma mesa, no melhor estilo empresário bem sucedido do ano! O que isso tem a ver com a pessoa de Jesus Cristo? O que um homem desses pode ter em comum com aquele que proferiu estas palavras: “ A raposa tem covis e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” ( Mateus 8:20)
Eu não sei. Eu só sei que Davi disse assim no Salmo 60:3 “Fizeste ver ao teu povo duras coisas.” Coisas duras não são moles. Manjedoura não é mansão. Jumento não é avião. Fariseu não é cristão. Deserto não é Campos do Jordão. Sangue não é vinho tinto. Lobo não é ovelha. Mercenário não é pastor. Cruz não é cartão de crédito. E o discípulo não pode ser maior do que o seu Mestre.

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