terça-feira, 18 de novembro de 2008

A igreja dos sonhos de Deus.

Quando o apóstolo João estava exilado na ilha de Patmos, por volta do final do primeiro século, a igreja já enfrentava dificuldades para se manter distante da influência do sistema religioso mundial. Por isso, já velho e no final da carreira, o Senhor lhe concede uma visão e de posse dessa visão, ele então, faz um apelo aos vencedores, para que vencessem a situação degradada do cristianismo de todas as eras.

O que João viu não era novo e nem velho. Apesar de suas palavras serem consideradas profecias, sabemos por revelação do Senhor que as igrejas ali representadas são um tipo das igrejas de todas as eras. Contudo, naquela ocasião, ainda se guardava a unidade da fé e todos os irmãos de uma determinada localidade formavam um único corpo cuja expressão era local em âmbito universal.

Isso é facilmente comprovado nas cartas que ele endereçou às igrejas da Ásia: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Para cada igreja corresponde uma cidade e esse é o padrão estabelecido pelo Senhor. Sempre que Paulo mencionava a palavra “ igreja” ele se referia a uma igreja local e sempre que ele mencionava a palavra “ igrejas” ele se referia a várias igrejas locais, em várias cidades, em uma mesma região. Por exemplo: Paulo escreveu às igrejas da Galácia. Galácia era uma província e não uma cidade. Por isso Paulo usou a palavra “ igrejas” no plural. Mas quando escrevia a uma igreja em uma cidade, Paulo usava a expressão no singular porque havia apenas uma igreja em cada cidade. Foi assim com a igreja em Corinto, com a Igreja em Roma, com a igreja em Filipos.

Em se tratando da igreja temos que discernir o aspecto universal e o aspecto local: a igreja universal é composta por todos os santos de todas as épocas e é real mas invisível. A igreja local é composta por todos os santos de uma mesma cidade. Ela tem por base uma localidade e é exatamente do tamanho de uma localidade, tendo um aspecto físico e um limite físico. Nela os santos podem ir e apresentar seus problemas, serem edificados conjuntamente, instruídos, consolados pela fé mútua e pelo funcionar de todos os membros.

O funcionar de todos os membros é condição para a edificação da igreja e tem sido um aspecto grandemente negligenciado dentro do cristianismo organizado. O desejo inicial do coração de Deus, manifestado na Velha Aliança, era que cada israelita lhe fosse um sacerdote. Por causa do episódio do bezerro de ouro, relatado em Êxodo 32, o Senhor determinou que apenas a tribo de Levi fosse separada para o serviço sacerdotal. Por esse motivo as demais tribos se tornaram inadequadas para exercerem a realeza e o sacerdócio. Mas a Nova Aliança traz-nos de volta ao princípio, conforme está escrito em 1 Pedro 2:9 : “ Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.”

Jamais foi desejo do coração de Deus que algumas pessoas lhe sejam sacerdotes enquanto outras se ocupem dos assuntos mundanos. Jamais foi desejo do coração de Deus estabelecer uma classe intermediária de irmãos que se ocupem das coisas santas, enquanto os demais se ocupam das coisas profanas. Jamais será desejo do coração de Deus fortalecer o sistema de nicolaísmo pelo qual uma hierarquia toma para si cargos e funções desprovidas de realidade espiritual. Não obstante, hoje, a sublime missão de expressar o Senhor fica restringida a alguns poucos privilegiados que o cristianismo organizado separa e comissiona em postos e funções.

Dentro desse conceito, nas reuniões dos santos, apenas esses podem funcionar enquanto os demais compartilham a mudez dos ídolos. Não há partilha, não há desfrute, não há comunhão. Nesse sentido, as reuniões dos santos tomam para si a maldição que está registrada no Salmo 115: “ Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos dos homens. Tem boca mas não falam, tem olhos mas não vêem, tem nariz mas não cheiram, tem mãos mas não apalpam, tem pés mas não andam. Tornem-se semelhantes a eles os que o fazem e os que nele confiam.”

Nosso Deus é um Deus vivo que fala, que vê, que cheira, que toca, que anda. Por que razão, nós, que temos o habitar interior do Espírito seríamos semelhantes aos deuses que não falam, que não vêem, que não cheiram, que não tocam, que não andam? Se confiamos no Deus Vivo precisamos expressar o Deus vivo. E nessa expressão temos então o modelo que Paulo estabeleceu para os crentes de Corinto:

“Quando vos reunis cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação.” "Cada um" e não apenas um ou dois.

Essa é a igreja dos sonhos de Deus.


Texto: Ana Maria Ribas Bernardelli

Publicado no Recanto das Letras em 15/08/2008
Código do texto: T1130081

Um comentário:

Anônimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado