domingo, 21 de setembro de 2008

Hospitais me dão calafrios

Se eu te perdesse, como seria? Como seria não ter mais sua presença?
Dias atrás eu até pensei na morte com paz e sossego de alma.
Como explicar esse medo agora.
Não sei o que me assusta mais: a morte em si ou o caminho até ela.
Ah, a doença me assusta.
Desliguei meus pensamentos e olhei de novo o rosto pálido daquela menina-moça deitada no meu colo. Vi as lágrimas escorrendo silenciosas por seu rosto. Sua mão apertava a barriga e ela encolhia. Sabia que sentia dor, mas ela só me pedia calma para me tranqüilizar.
Gostaria que o táxi voasse.
Meu pensamento voa.
E se for grave?
Nesse mesmo instante a memória puxa frases e diagnósticos que marcaram definitivamente a minha vida.
Imagino que todos os pacientes de doenças graves e, pior ainda, os terminais já tenham passado pelo que passei.
Por que será que os médicos são tão diretos e frios?
Dizem que a lei os obriga a alertar o paciente dos riscos de suas doenças.
Mas é necessário serem tão negativos e pragmáticos?
Não conseguem se colocar no lugar da mãe, pai, cônjuge, filho ou da própria pessoa que ouve?Como imaginam que seja ouvir:
- Não tem jeito. Não tem cura. É melhor preparar a família.
O táxi freia e volto á realidade.
Passo a mão por seus cabelos e seco suas lágrimas. Gostaria de estar no seu lugar. Gostaria de tirar-lhe a dor com minhas mãos.
Parece que o hospital fica em outro estado.
Nossos olhos se encontram e sorrimos ao mesmo tempo, um sorriso forçado e amarelo, uma tentando acalmar a outra.
Sempre penso no pior. Será que só eu faço isso?
Quem nunca sentiu uma dor no pé e não pensou que fosse perder a perna toda?
Quem nunca leu uma matéria na Internet e já se sentiu com todos os sintomas da doença em questão?
Existe uma mãe que não sofra até a alma quando um filho diz ai?
Acho que sou mole mesmo.
Chegamos.
Ela senta-se molenga na cadeira na sala de espera e eu vou tentar ficar muda atrás daquelas pessoas na fila.
Fico repentindo na minha mente: não se altere, não peça para passar na frente, não grite para um médico ou enfermeira pegar sua menina nos braços e atendê-la com a mesma urgência que seu coração pede.
Que dia é hoje mesmo?
Quarta-feira, dia 18 de junho de 2008.
Lembro-me das inúmeras vezes que já estive aqui nesse mesmo lugar, anos a fio pra ser exata, mas, sem duvida nenhuma, sempre me parece a primeira e a pior delas.
Não gosto de hospitais.
Ou melhor, não gosto das lembranças que eles me trazem.
Mas, minha experiência me obrigou a sentir tranqüilidade em estar aqui.
Sei que esses profissionais, por mais frios e distantes que me pareçam, têm o socorro físico de que preciso.
Somos conduzidas por essas salas frias, por esses corredores estreitos e sem fim até o local de exames.
Eu a ajudo deitar-se na mesa de Raio X e só então coloco as mãos sobre sua cabeça e seu peito e falo com Deus.
Em poucas palavras peço que repreenda essa enfermidade, que prepare tudo, que cure minha menina.
Percebo ali o quanto tenho andado distante do Senhor, há quanto tempo não oro?
Fico envergonhada com minha infidelidade.
Ainda bem que Deus não pensa e age como os homens e permanece fiel.
Ele me concedeu mais uma vitória.
Apesar disso, sei que quando outra prova vier, por mais que eu não queira vou entrar em pânico e sofrer e sofrer e sofrer.....
Mas essa é outra história.


texto: Etelvina de Oliveira.

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